Carta a Karine

Fortaleza 23 de dezembro de 2009

Ka,

Não to me sentindo muito bem esses dias. Se eu sumir do mapa não fica preocupada, só estarei realizando o meu sonho de fugir, de poder ser o que eu realmente sou. O que nem sei ainda definir, mas tenho mais fé a cada dia que estou bem próxima de descobrir!
Estou tentando fazer o melhor e entender quando as outras pessoas não conseguem. Mas ainda me falta algo! E não são amigos, pois sei que tenho os melhores! E não é família, pois mesmo com imaturidade e às vezes errando, sei que posso contar com meus pais sempre e com meus irmãos principalmente! E não é amor, pois já tive o mais puro que podia existir, o mais apaixonado, o mais compreensivo...
Então o que posso concluir é que na verdade meu problema está em mim. E talvez a resposta só eu possa encontrar! Sozinha e reclusa. E o melhor disso é que estar só não me assusta, o que me assusta de verdade é pensar que posso não estar por perto se um de vocês precisarem.
Quem vai confirmar suas teorias absurdas para o resto do mundo e só coerentes para nos e também quem vai dizer que você está exagerando? Quem vai topar as loucuras que a Joelma quer fazer do nada, quem vai tomar só “cinco cervejinhas com a Camila”, e quem vai dançar o ‘Proibição' com a Sara?
Quem vai tirar um zoom de cinco das histórias da Suyanne, quem vai dizer pra Luciana pra ela dar um pouquinho de freio na vida, e pra Vera que um dia, não tão longe, ela vai ter a Julinha com ela?
Quem vai dizer pro Avelino que a vida não é só farra? E quem vai ser a fã numero um do Eric? Quem vai ser a pessoa que faz o Régis lutar pelo simples fato de provar que sempre foi capaz?
Quem vai fazer cafuné no meu pai e o mandar tomar o remédio direitinho? Quem vai dizer pra minha mãe não beber e ao mesmo tempo rir com ela das besteiras que ela faz? Quem vai ser a neta preferida da vó Rita? E da vó Nereida também, fora a Chiarinha?
Eu não quero dizer com isso que sou insubstituível, ninguém é! Estou dizendo justamente o contrário. Que na verdade, o motivo que me impede de fugir desse lugar, é essa minha vontade de voltar no dia em que eu realmente souber o que eu sou e o que eu quero e talvez até já tenha realizado algumas coisas. E nesse dia da volta não terei nenhum direito de cobrar o meu espaço desse mundo que eu abandonei, ele certamente já terá sido preenchido! E uma vontade que eu nunca tive apesar do vazio imenso que é minha vida, talvez ronde a minha cabeça.
Se um dia eu, simplesmente desaparecer, diga a cada uma dessas pessoas que elas não foram abandonadas, nem pouco importantes pra mim. Na verdade foram Até hoje o único sentido da minha vida! Mas que é muito angustiante viver assim. Eu preciso disso!
E no dia que eu tiver forças ou for adulta o suficiente pra agüentar as barras eu o farei. Não quero que pareça que estou triste ou que farei isso amanhã! Apenas não me sinto plenamente feliz e sei que um dia farei, não quero que seja tão assustador!

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