Sabe aquela menina que se inspirava na Clarice, que nem penava em casar, que ia ser a melhor motoqueira do pedaço e sempre, sempre ia lutar pelos seus ideais de liberdade, amor e comunhão? Aquela que só ouvia Rock’n’roll e estudava misticismo e coisas transcendentais? Bem, acho que ela ficou lá pela minha adolescência, sabe?! Lá atrás, naquele tempo em que eu queria tudo agora e que eu pensava em mim como alguém DIFERENTE, alguém que não seria “corrompida pelo sistema”.
Eu ri agora quando reli o ultimo parágrafo... Veio a minha mente, como num filme, incrivelmente claro, eu mesma há 10 anos atrás. Não que eu seja velha, na verdade sou bem jovem, 23, mesmo assim consigo perceber o quanto eu cresci, o quanto minha percepção de uma mesma coisa mudou e principalmente, como o tempo passa rápido.
Ta, devo confessar que esses últimos dias, estou mais nostálgica do que vinha sendo nos últimos anos. Deve ter sido por isso que lembrei dos 13.
Eu chorei e nem soube por que exatamente. Mas quando parei pra pensar, vi que até tinha motivos, mas parece que já estou tão acostumada a porrada, porrada e mais porrada que nem reparei que os problemas estavam se acumulando, que a saúde estava debilitada e que a casa já precisava de consertos.
É que eu não pensei na minha vida exatamente desse jeito. Eu pensei em algo mais fácil, em não ter lugar e ainda assim não se sentir perdido, imaginei milhares de paixões, mas apenas um grande amor pra continuar a até o fim a meu lado. Pensei na vida dos contos de fadas daqueles livros que meu pai lia. Lembrei constantemente na voz dele me dizendo que: “Você é uma princesa”.
Eu sou motoqueira, ta, sou uma motociclista, meio desengonçada e cheia de gambiarras, nem uso jaqueta e botas, nem tão pouco minha moto é preta com chaveirinho de caveira.. (juro que era isso que eu pensava..rs Tipo a Alex – Camila Pitanga – na Malhação, quando ainda era uma academia.).
Ainda acredito no amor, mas descobri cedo, que ele pode se perder. E sabe, eu sou feliz, mas não é daquele jeito que eu pensava que a felicidade era. Hoje vejo que a felicidade tem muito mais a ver com, a ausência de complicações ou a resolução de uma série de prolemas do que com coisas incrivelmente maravilhosas que acontecem do nada.
O “sistema”, o que é isso mesmo? Nem lembro mais. Hoje prefiro MPB, samba de mesa e pop rock dos mais calmos e românticos que possam existir.
Mas ainda sou eu aqui! Juro! Da pra ver? Só que acho que cresci, talvez cedo demais. Meu namorado diz que eu não tenho a cabeça da minha idade, que eu já passei uns 10 anos disso. Eu sempre fui assim. Algumas vezes isso me irritou. Tento pensar que tudo que vivi me fez a pessoa que sou hoje, e gosto dessa pessoa. Eu só não queria ser ela agora.
Queria ter um quarto na casa dos meus pais e ter problemas do tipo “odeio a minha irmã porque ela pega minha maquiagem”. Não ter que pagar aluguel e perder noites de sono pensando em como vou pagar as contas ou inventando coisas mirabolantes na minha cabeça pra achar algo pra dizer pra minha irmã de 17 anos que à convença de não casar agora.
Eu choro muito, e sou ligeiramente hipocondríaca, estou com medo de me tornar uma pessoa daquelas que as outras pessoas não gostam de estar perto. Triste e cheia de reclamações. Tenho escrito cada vez menos. Isso também me entristece. Hoje lembrando daquela menina radiante e cheia de esperanças que queria independência e liberdade, só consigo pensar num colo pra deitar e contar os meus problemas, pra vê se me livro um pouquinho deles. Quero alguém que me ame e que seja verdadeiramente por mim. Que apenas me escute e não me julgue, só isso. Só hoje, só dessa vez. Pra ver se eu me animo de novo, pra ver se eu não me sinto assim tão só.
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